Você já se perguntou como o bilinguismo afeta o seu cérebro? Ser bilíngue é apenas uma habilidade ou realmente muda a forma como o cérebro funciona? A ciência tem respostas fascinantes para essas questões. No artigo de hoje, vamos explorar as vantagens de ser bilíngue, e os efeitos de aprender um segundo idioma tem no seu desenvolvimento cerebral!

bilinguismo

Bilinguismo e desenvolvimento cerebral

Quando uma pessoa aprende e usa dois ou mais idiomas, o cérebro passa por mudanças significativas em sua estrutura e função.

Estudos indicam (2) que o bilinguismo influencia regiões cerebrais relacionadas à linguagem e ao controle cognitivo, promovendo adaptações que melhoram diversas habilidades mentais. Essas mudanças acontecem tanto no nível estrutural quanto funcional, tornando o cérebro mais eficiente e flexível.

O bilinguismo remodela o cérebro

Pesquisas com imagens cerebrais demonstram que o bilinguismo altera fisicamente o formato do cérebro, especialmente nas áreas responsáveis pela linguagem e pelas funções executivas. Estas são habilidades que nos ajudam a planejar, focar e gerenciar múltiplas tarefas de maneira mais eficaz.

Uma das regiões mais afetadas pelo bilinguismo é o córtex pré-frontal, responsável pela tomada de decisões, resolução de problemas e controle da atenção. Estudos indicam que bilíngues apresentam uma maior densidade de matéria cinzenta nessa região, o que pode contribuir para um raciocínio mais rápido e eficiente.

Além disso, cientistas descobriram (1) que o bilinguismo está associado a um aumento da densidade da matéria cinzenta no lobo parietal inferior esquerdo, uma região fundamental para o processamento da linguagem.

Outros estudos indicam (3) que a conectividade entre diferentes regiões cerebrais também é reforçada, tornando o cérebro bilíngue mais resiliente e adaptável a diferentes situações cognitivas.

Funções executivas e controle cognitivo

Bilíngues tendem a superar monolíngues em tarefas que exigem controle cognitivo, como alternar entre diferentes tipos de informações e ignorar elementos irrelevantes. Isso ocorre porque o ato de trocar entre idiomas constantemente fortalece a rede neural do controle cognitivo.

Estudos também apontam que pessoas bilíngues têm maior facilidade em realizar múltiplas tarefas simultaneamente. Isso acontece porque o cérebro bilíngue está sempre ativo, mesmo quando a pessoa está falando apenas um idioma por vez, pois precisa inibir o outro idioma e escolher o mais adequado para cada situação. Essa habilidade de gerenciar múltiplas informações é essencial em diversos contextos da vida cotidiana e profissional.

O bilinguismo retarda o declínio cognitivo

O impacto do bilinguismo na cognição vai além do aprimoramento mental. Estudos indicam (4) que bilíngues podem retardar os sintomas de Alzheimer e outras formas de demência em cerca de quatro a cinco anos. Essa proteção ocorre devido à chamada “reserva cognitiva”, que se refere à capacidade do cérebro de compensar danos através de redes neurais fortalecidas.

Essa reserva cognitiva é criada ao longo dos anos pela constante estimulação cognitiva causada pelo uso de dois ou mais idiomas. Ou seja, aprender uma nova língua não apenas facilita a comunicação, mas também pode ser uma estratégia eficaz para manter a saúde mental na terceira idade.

Bilinguismo precoce vs. tardio

O momento em que se aprende um segundo idioma também influencia o desenvolvimento cerebral. O bilinguismo precoce, adquirido antes dos seis anos, tem o maior impacto na estrutura do cérebro, especialmente nas áreas relacionadas ao processamento da linguagem.

No entanto, mesmo aprendendo um segundo idioma na idade adulta, ainda há benefícios cognitivos significativos. Estudos (5) mostram que adultos bilíngues também apresentam maior densidade de matéria cinzenta e maior flexibilidade cognitiva.

A boa notícia é que nunca é tarde para aprender uma nova língua e aproveitar seus benefícios, independentemente da idade.

Desmistificando o mito: o bilinguismo confunde as crianças?

Um mito comum é que crescer em um ambiente bilíngue pode confundir as crianças. No entanto, pesquisas demonstram que elas têm uma capacidade impressionante de separar os idiomas desde cedo, sem prejuízos para seu desenvolvimento. Na verdade, o bilinguismo fortalece suas habilidades cognitivas e sua capacidade de resolver problemas.

Estudos (6) (7) também mostram que crianças bilíngues tendem a ter um melhor desempenho acadêmico, especialmente em disciplinas que exigem raciocínio lógico e criatividade.

Conclusão

A ciência é clara: o bilinguismo não só remodela o cérebro, mas também melhora as habilidades cognitivas, retarda o declínio mental e nos mantém mentalmente ativos por mais tempo.

Por isso, se você está aprendendo um novo idioma ou quer criar filhos bilíngues, siga em frente! Os benefícios são reais e comprovados pela ciência.

[VÍDEO] O bilinguísmo torna você mais esperto?

Se você prefere vídeo, confira este que a Abbe gravou, falando sobre como o bilinguismo afeta seu cérebro. O vídeo está em inglês, mas oferece legendas em português e em cinco idiomas estrangeiros. Para habilitar a sua, é só clicar no ícone da engrenagem no canto inferior direito do vídeo.

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📚 REFERÊNCIAS:
1) Mechelli, A., Crinion, J. T., Noppeney, U., O’Doherty, J., Ashburner, J., Frackowiak, R. S., & Price, C. J. (2004). Structural plasticity in the bilingual brain. Nature, 431, 757.
2) Olulade, O., Jamal, N., Koo, D., Perfetti, C., LaSasso, C., Eden, G. (2016). Neuroanatomical Evidence in Support of the Bilingual Advantage Theory. Cerebral Cortex, 26(7), 3196-3204.
3) Bialystok, E., Craik, F. I., & Luk, G. (2012). Bilingualism: Consequences for mind and brain. Trends in Cognitive Sciences, 16(4), 240-250.
4) Alladi, S., Bak, T. H., Duggirala, V., Surampudi, B., Shailaja, M., Shukla, A. K., & Kaul, S. (2013). Bilingualism delays age at onset of dementia, independent of education and immigration status. Neurology, 81(22), 1938-44.
5) Li, P., Legault, J., & Litcofsky, K. A. (2014). Neuroplasticity as a function of second language learning: Anatomical changes in the human brain. Cortex, 58, 301-324.
6) Byers-Heinlein, K., Burns, T. C., & Werker, J. F. (2010). The Roots of Bilingualism in Newborns. Psychological Science, 21(3), 343-348.
7) Crivello, C., Kuzyk, O., Rodrigues, M., Friend, M., Zesiger, P., Poulin-Dubois, D. (2016) The effects of bilingual growth on toddlers’ executive function. Journal of Experimental Child Psychology, 141, 121-32.