por-que-a-idade-nao-representa-um-freio-no-aprendizado-de-uma-lingua-mosalinguaQuando o assunto é aprender uma nova língua, escutamos diversas vezes: “sou muito velho para começar, é tarde demais”. Tem certeza? Existe uma idade a partir da qual não somos mais capazes de aprender uma língua? Ou seria apenas uma desculpa para não começar? Aliás, como podemos saber ainda somos jovens ou se estamos “muito velhos” para aprender uma nova língua?  

A ideia deste artigo não é de definir a idade que nos caracteriza como “velhos” (pois, na minha opinião, seremos para sempre grandes crianças…), mas demonstrar a razão pela qual a idade não é um freio no aprendizado de uma língua – e chegamos a esta conclusão apoiados na ciência. É isso mesmo, senhoras e senhores, estudos comprovam que mesmo as pessoas de mais idade são completamente capazes de aprender uma nova língua. Tão bem quanto os jovens e, às vezes, até com mais rapidez. 

 

Uma pessoa de idade mais avançada apresenta várias vantagens para aprender uma língua quando comparada a uma criança. A motivação, a comunicação verbal, a fonética…
A maturidade constitui uma vantagem importante no aprendizado de uma língua. Você duvida? Bom, veremos o que você pensa após a leitura deste artigo.

A neuroplasticidade ou “a eterna juventude do cérebro”

por-que-a-idade-nao-representa-um-freio-no-aprendizado-de-uma-lingua-mosalinguaHá anos sabemos que o cérebro humano não é imutável. Ele evolui – evolui constantemente, já que estamos constantemente aprendendo coisas novas. É o que chamamos de neuroplasticidade ou plasticidade neural. Um termo científico que descreve os mecanismos através dos quais nosso cérebro se modifica e se molda, principalmente em períodos de aprendizagem (fala-se em um processo de neurogênese) ou quando se depara com novas experiências, como por exemplo uma mudança de ambiente ou uma lesão.  Nosso cérebro não pára de evoluir simplesmente por termos alcançado uma idade “crítica”. Ele continua evoluindo enquanto estivermos aprendendo. Tal situação foi demonstrada em um estudo realizado em 2000 por Maguire et al. Um estudo de imagens que analisou o cérebro de motoristas de taxi.

Breve explicação: os motoristas de taxi de Londres devem percorrer as ruas da cidade por dois anos antes de receberem a autorização para tornarem-se profissionais. Pesquisadores se interessaram em estudar o impacto que este treinamento prolongado causava no cérebro dos motoristas. As imagens produzidas por ressonância magnética de 16 taxistas demonstrou que o hipocampo[1] nestes indivíduos era maior do que em outros 50 homens que fizeram parte do estudo (homens em bom estado de saúde e não-taxistas). Outra coisa: quanto mais experiente era o taxista, mais desenvolvido estava o seu hipocampo. Em outras palavras, este período de aprendizagem e prática produziu um desenvolvimento importante no cérebro destes taxistas, não importando a idade deles.

 

Nosso cérebro não pára de evoluir. Mesmo em idade avançada. Ele não pára simplesmente porque atingimos uma certa idade. Enquanto estivermos aprendendo, nosso cérebro continuará evoluindo. Não é preciso, então, inventar desculpas para não se aprender uma nova língua!

E o cérebro dos intérpretes militares?

Um outro estudo, realizado com intérpretes militares em 2012 por um grupo de pesquisadores dirigidos por Johsan Martensson, buscou demonstrar a influência da aprendizagem de uma nova língua no cérebro. Para fazê-lo, foi medido o volume do hipocampo antes e depois de três meses de cursos de língua intensivos. O resultado?

O estudo revelou que o hipocampo havia evoluído proporcionalmente ao número de horas de curso. Resumindo, o hipocampo dos militares que realizaram cursos de língua intensivos estava maior do que o hipocampo daqueles que não realizaram curso algum. Interessante, não é mesmo?

 

As competência metacognitivas: uma questão de hábito…

Um outro conceito e uma outra prova de que não existe idade para se aprender uma língua.

Foi demonstrado que as pessoas de idade avançada apresentam vantagens cognitivas ao aprender uma língua nova. É o que chamamos, no linguajar científico, de competências metacognitivas. Resumidamente, os idosos podem se basear em experiências de aprendizado passadas para assimilar novos conhecimentos.

Um estudo dirigido por Mary Schleppegrell, realizado em 1987[2] demonstrou que não existe declínio quando o assunto é a idade para se aprender uma língua. Nossas capacidades para tal não entram em declínio em momento algum. Pelo contrário, chegou-se à conclusão que pessoas de idade avançada seriam melhor adaptadas para aprender uma língua do que as pessoas mais jovens, pois contam com melhores competências cognitivas. Em outras palavras, contam com a experiência para assimilar uma nova língua. Concluiu-se que as pessoas de mais idade eram capazes de aprender uma língua com mais rapidez do que os jovens. (Estudo de 1979 realizado por Krashen, Long e Scarcella). Por quê? Pois estão mais habituadas com competências comunicativas.

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Então é isso. Os adultos/idosos contam com trunfos importantes na hora de aprender uma nova língua.
Um último ponto: um outro estudo, realizado em 1978 (Walsh e Diller) demonstrou ainda que os indivíduos mais idosos são mais sensíveis às técnicas gramaticais e à compreensão semântica. Uma sensibilidade que permite um maior nível de atenção e de compreensão, ajudando significativamente no processo de aprendizagem.

E agora, você ainda duvida da sua capacidade de aprender uma nova língua?
O único freio para a aprendizagem seriam talvez os problemas de vista… para alguns, acaba sendo difícil a leitura na internet ou nos telefones. Mas, graças aos smartphones, agora é possível ajustar a tela e o tamanho das letras, o que garante uma melhor legibilidade. Então… não sobraram desculpas!

[1] o hipocampo é área do cérebro relacionada à memória e à navegação espacial.
[2] Estudo: “Eric Clearinghouse on language and linguistics Washington DC”, 1987