Qual a chave do sucesso para a aprendizagem de idiomas? Durante o Encontro de Poliglotas 2017, Luca entrevistou uma poliglota e intérprete eslovaca pra saber sua opinião. Nesta entrevista com Lydia Machova, ela conta como organiza sua própria aprendizagem de um novo idioma. E fala sobre o que costuma sugerir a pessoas que têm interesse em aprender línguas estrangeiras.

entrevista poliglota

Atualizado em 18.05.22

Durante o Encontro de Poliglotas 2017, nosso Luca, do MosaLingua, entrevistou a organizadora do evento. Durante a entrevista, Lydia conta da sua própria experiência com a aprendizagem de idiomas estrangeiros, que começou aos 11 anos de idade.

Em seguida, fala também sobre o que diferencia estudantes de língua bem sucedidos daqueles que não conseguem avançar, e compartilha o método e os truques que ela mesma usa (e indica!) para aprender um novo idioma. Além disso, ela acaba de vez com o mito de que os poliglotas são pessoas especiais, com um talento especial para aprender novas línguas… Confira!


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Confira a transcrição da entrevista com Lydia Machova:

— Oi, pessoal, eu sou o Luca, do MosaLingua. Hoje, estou muito feliz em estar com a Lydia Machova. Espero ter pronunciado corretamente. A Lydia trabalha como intérprete. Ela é uma poliglota. Ela é a organizadora do encontro de poliglotas deste ano e é também uma mentora de idiomas. Vamos saber um pouco sobre o que isso significa daqui a pouco. Então, minha primeira pergunta, é claro, é sobre sua experiência com idiomas.

— Bem… eu comecei a aprender meu primeiro idioma estrangeiro, que foi o inglês, quando tinha 11 anos. Depois continuei com o alemão quando tinha 15. Com 19 comecei a aprender um novo idioma mais ou menos a cada dois anos, que foram espanhol, polonês, francês, esperanto e russo, nessa ordem.

Como Lydia aprende

— Muito impressionante. Então, você aprendeu diversas línguas até agora, além da sua língua nativa, o esloveno. Estou muito curioso pra saber quais são seus primeiros passos quando você começa a aprender um idioma?

— Eu sempre faço da mesma forma. Compro um livro para autodidatas, pessoas que estão aprendendo sozinhas e uso o método da tradução reversa. Isso significa que eu traduzo esses textos em esloveno em um caderno. Depois, vejo frase por frase e vou traduzindo de volta para o idioma que estou aprendendo. Faço isso tantas vezes quantas for necessário para conseguir dizê-las de forma fluente. Desse jeito eu aprendo muito vocabulário contextualizado e, então, continuo com algumas atividades mais divertidas.

— Eu gostaria de saber se sua profissão de intérprete ajudou de alguma forma no seu processo de aprendizagem?

— Sim. Certamente, há uma correlação. Se você quer ser intérprete, você precisa aprender idiomas e precisa falá-los bem. Mas também, quando você os usa quando está trabalhando como intérprete, isso ajuda você a manter os idiomas ativos. Então, é como um processo simbiótico: uma coisa ajuda a outra.

Mentoria em idiomas

— OK. Então, eu sei que você é uma mentora de idiomas. Você lançou recentemente seu site, Languagementor.com. 

— Na verdade, é LanguageMentoring.com.

— Desculpe. LanguageMentoring.com. Com ele, você está ajudando muitos estudantes e, então, acho que consegue ver as diferenças entre os estudantes que têm e os que não têm sucesso. Na
sua opinião, antes de tudo, qual é a chave para ter sucesso na aprendizagem de um idioma, a partir do que você observou com esses estudantes?

— Sim. Eu acho que há uma coisa importante que as pessoas têm que fazer para realmente aprender um idioma, que é decidir fazer isso sozinhas. Eu vejo essa como a grande diferença, na verdade, porque há muitos estudantes de idiomas por aí que frequentam aulas, etc, mas que não querem realmente aprender. Eles querem ser ensinados, e eu acho que esta é realmente a grande diferença. Porque quando os estudantes entendem que precisam passar a maior parte do tempo com esse idioma sozinhos, a coisa começa a funcionar. Mesmo pessoas que vêm avançando com dificuldades por muito tempo de repente começam a fazer progressos, que as motiva a aprender mais e mais.

    Então, acho que o principal, o maior erro que as pessoas cometem é aprender só um pouquinho e fazer alguma lição de casa. Elas só vão para as aulas e pensam “OK. Me ensine”, sabe… “você é o professor, então, faça acontecer” e isso seguramente não funciona.

A chave para o sucesso na aprendizagem de idiomas

— OK. E você acha que há outros obstáculos muito significativos além do que já citou, do ponto de vista de alguém que aprendeu com sucesso?

— Com certeza. Há vários. Eu posso citar quatro coisas, como parte do meu sistema, e a 1a é que as pessoas precisam se divertir quando estão aprendendo um idioma. Se você não sente prazer, não vai conseguir memorizar nada. Pode passar horas estudando e seu cérebro diz, “Não estou interessado”, sabe? 

    O segundo ponto é que você precisa de muito contato com o idioma. Então, não basta apenas ler um pequeno texto aqui, outro lá. Você realmente precisa de muitos livros, sabe, precisa ouvir muitos vídeos, etc. Isso leva tempo.

    E, em terceiro lugar, é muito melhor manter a frequência. Estudar em porções pequenas, do que passar oito horas com o idioma todo domingo… E, por último, dá mais certo se você segue um sistema. Então, se você diz “OK, eu acordo de manhã e estudo um pouco e depois, à noite, antes de ir pra cama, faço isso de novo”.

… mais alguns truques

— Outra coisa muito interessante a esse respeito é que você aprendeu todas as línguas que fala sem viver em outro país por muito tempo. Eu realmente não acredito nessa ideia de que você tem que morar fora. Então, gostaria que você detalhasse isso: o que você acha desse tipo de aprendizagem?

— Eu acho que isso só se tornou possível com a Internet. Acho que não era possível antes, porque com quem você iria conversar, certo? Quer dizer, como você iria praticar o idioma? Onde iria encontrar todos os livros e ouvir todas essas coisas? Hoje, você pode criar seu próprio país, se está online, porque pode escutar tantos audiolivros e vídeos, etc, e pode baixar livros, livros-texto, o que quiser, na verdade. Está tudo por aí. Então, eu consigo criar meu ambiente, um ambiente estrangeiro aqui na Eslováquia, sem ter que ir morar fora, e essa é realmente a forma como eu faço. 

    Eu gosto de viajar para outros países, e gosto muito, mas eu só vou quando já consigo falar o idioma em um nível B1 ou superior. Então, eu passo, por exemplo, dez meses na Polônia, para onde eu fui quando já tinha um nível C1. Eu realmente aprendi aqui na Eslováquia e, depois, só viajei para usar o idioma. Eu acho que isso funciona muito melhor porque, se você vai para outro país e você não fala nada, só vai entender palavras aleatórias, sabe, uma aqui, outra ali, mas não é muito eficaz. Mas se você já fala num nível B1, consegue progredir muito mais facilmente porque você de repente entende coisas e pode colocar tudo junto… e isso é muito mais intenso.

Um talento especial?

— Eu assisti ao vídeo da Lydia falando em alemão e russo. Então, a primeira impressão, ou a primeira reação da pessoa é dizer “como essa moça é talentosa. Ela é um gênio, é muito especial”. Então, gostaria de saber sua opinião sobre se os poliglotas são realmente pessoas especialmente talentosas, super seres humanos, ou eles só têm outros segredos?

— É. Isso é o que a maior parte das pessoas pensa, né? “Todos esses poliglotas são pessoas super talentosas”. Isso não é verdade. Eu acho que, se você perguntar isso para as 400 pessoas que estão neste encontro, todas vão dizer que não se trata de talento e que, com frequência, isso é uma desculpa. Se formos realmente honestos, essa é uma desculpa das pessoas que não querem aprender idiomas, que vêm tentando por algum tempo e pensam “É claro, se eu tenho estudado por 20 anos e não consigo aprender uma mísera língua, você deve ser muito talentosa, porque aprendeu 20, certo?”

    Mas eu sempre digo que não tem nada a ver com talento. Tem a ver com a abordagem. Então, talvez se eu tivesse uma abordagem diferente para aprender idiomas, e talvez você tenha uma diferente, pois se você pensar sobre isso e estiver aberto à possibilidade de aprender de um jeito diferente, isso pode funcionar; e jeitos diferentes significam que você realmente assume a responsabilidade pela aprendizagem e aprende ativamente sozinho.

— Muito obrigado, Lydia. Foi muito interessante. Espero que você tenha gostado das dicas. Então, obrigado por assistir ao vídeo. Até mais! Obrigado!