Entre as línguas asiáticas, o japonês é uma das que mais vem despertando o interesse dos brasileiros. De um lado, o Brasil abriga a maior comunidade de japoneses e descendentes de japoneses fora do Japão. De outro, o interesse crescente por movimentos culturais, como a cultura otaku, e a proximidade dos Jogos Olímpicos de Tóquio também são fenômenos que ajudam a explicar por que um número cada vez maior de brasileiros quer aprender japonês. Para facilitar esta tarefa, o artigo de hoje traz 5 dicas sobre como aprender japonês — do jeito mais fácil.

como aprender japones

Talvez pela diferença no sistema de escrita. Ou pela distância entre nosso país e o Japão; ou talvez ainda por toda a tradição e a aura mística que a cultura japonesa inspira. Seja por um destes aspectos, ou por um pouco dos três, muita gente pensa que o japonês é um idioma difícil para aprender. Naturalmente, ele tem especificidades. Mas a verdade é que ele não é mais nem menos difícil do que qualquer idioma estrangeiro que decidamos aprender.

É por isso que, neste artigo, vamos começar listando quais as principais dificuldades relacionadas à aprendizagem do japonês. E, em seguida, trazer 5 dicas para facilitar essa tarefa 😉

Quais as principais dificuldades para aprender japonês?

O japonês não tem nenhuma semelhança com o português

Soja, tsunami, futon e karaokê são algumas das palavras que nosso idioma herdou da língua japonesa. Apesar disso, não podemos dizer que o português e o japonês tenham muito em comum.

O japonês pertence à pequena família das línguas japônicas. Além do japonês propriamente dito, essa família linguística é formada também pelas línguas ryukyuanas, faladas em um arquipélago que se estende entre o sudeste do Japão e a ilha de Taiwan. Ainda que haja quem defenda um parentesco com o coreano e as línguas altaicas (turco, mongo, etc), as línguas japônicas costumam ser considerada uma família isolada. Ou seja: o japonês não se parece com nenhum outro idioma, embora muito do seu vocabulário tenha vindo do idioma chinês.

Então, mesmo que além do português você domine outras línguas romanas (como o francês, o italiano ou espanhol) ou ainda línguas germânicas (entre as quais estão o inglês e o alemão), aprender japonês será uma experiência totalmente nova.

Uma estrutura diferente da do português

Ainda seguindo este raciocínio, as frases em japonês têm uma estrutura muito diferente das frases em português. Enquanto nós usamos principalmente a ordem sujeito – verbo – objeto (SVO), o japonês dispõe esses elementos de outra forma: sujeito – objeto – verbo (SOV). Ou seja: em português diríamos, por exemplo, “eu como uma maçã“. A mesma frase, em japonês, seria 私は林檎を食べます (watashi wa ringo o tabemasu), ou “eu maçã como“.

Além disso, o japonês é uma língua muito contextual. É um idioma que não possui nenhum gênero (masculino ou feminino), não tem plural, e conta com apenas dois tempos gramaticais (passado e presente-futuro).

Um ponto em comum com o português, no entanto, é que o japonês também admite a omissão do sujeito. Então, para “eu como uma maçã“, é comum que os japoneses digam 林檎を食べます (ringo o tabemasu), que seria simplesmente “maçã como“.

Três sistemas de escrita

Se idiomas como o russo ou o grego assustam você com seus alfabetos diferentes, prepare-se… O japonês usa não apenas um, mas três sistemas de escrita próprios.

  • Os kanjis (漢字), que são ideogramas derivados da escrita chinesa (Há milhares de kanjis, e é necessário saber um certo número deles de cor para poder ler e escrever em japonês), e dois silabários: os hiraganas e os katanas.
  • Os hiraganas (ひらがな) servem para representar a forma escrita da língua japonesa. Eles são usados principalmente em palavras que não possuem representação em ideogramas kanji, ou quando estes ideogramas tornariam a leitura muito difícil.
  • Os katakanas (カタカナ) são usados para transcrever os nomes estrangeiros, as onomatopeias e os termos científicos.

Lembrando que os kanas (hiraganas e katakanas) são silabários. Ou seja: ao contrário de um alfabeto (como o latino, o grego, o cirílico), cada caractere indica uma sílaba inteira, e não apenas uma vogal ou uma consoante.

Além destes três sistemas de escrita, o japonês também faz o uso eventual dos algarismos arábicos (アラビア数字, Arabia sūji) e do alfabeto latino. Esta representação do japonês com caracteres latinos recebe a denominação rōmaji (ローマ字). Portanto, é possível encontrar até cinco sistemas de escrita em uma única frase!

Como aprender japonês: 5 dicas que fazem a diferença

Agora que já vimos as principais dificuldades que o japonês pode trazer para um nativo no português, vamos respirar fundo…. Com uma boa dose de motivação e um bom método de estudos, nenhum idioma é impossível de aprender. Confira, então, 5 dicas que vão facilitar a sua vida.

#1 – Olhe a gramática com outros olhos

Como vimos, a forma de pensar, em japonês, é diferente da nossa. Portanto, é preciso nos adaptarmos a elementos que de início nos parecem estranhos. Adjetivos que são “conjugados”, um verbo “ser” que não é realmente um verbo (です, desu), fórmulas de tratamento diferentes…

Para aprender a gramática japonesa, o primeiro passo é não se prender à gramática do português. Ou seja: aceite trocar de lentes, e você verá tudo com mais clareza.

#2 – Aprenda a escrita assim que possível, e em etapas

Empurrar o desafio para mais tarde, e se contentar com a transcrição dos caracteres japoneses no alfabeto latino, pode ser tentador. Mas esse seria um grande erro. Na verdade, pela minha experiência, aprender um idioma inclui aprender a escrita. E o japonês, nesse aspecto, não é exceção. Por isso, sugiro que você memorize os hiraganas assim que possível. Assim, em pouco tempo, você poderá deixar a transcrição de lado. E parar de carregá-la como se fosse uma bola de ferro presa aos seus pés.

Depois que tiver assimilado bem os hiraganas, concentre-se em aprender os katakanas. Na minha opinião, a aprendizagem desse segundo silabário é menos urgente, embora seja igualmente importante.

Em seguida, é hora de aprender os kanjis. Faça isso no seu ritmo, com um dispositivo que lhe dê acesso a um sistema de repetição espaçada. Para começar, você pode usar o Anki, enquanto espera o lançamento do MosaLingua Japonês ;-).

Seu primeiro objetivo será se familiarizar com os caracteres, aprender a traçá-los corretamente e a começar a reconhecê-los em textos. Em um primeiro momento, não se preocupe com a pronúncia. Pouco a pouco, ler e escrever os kanjis se tornará algo natural. E você verá esses caracteres como uma ajuda preciosa, e não mais como um obstáculo. O japonês tem muitas palavras homófonas (aquelas que são escritas de forma diferente, mas pronunciadas da mesma maneira). Por isso, a transcrição em hiraganas, sozinha, pode não ser suficiente.

Mais tarde, você vai perceber que cada caractere pode ter mais de uma pronúncia. E que será útil conhecê-las para saber como são pronunciadas as palavras que você vier a aprender. Esse será o momento em que a aprendizagem da pronúncia dos kanjis se tornará útil.

#3 – Seja rigoroso(a) com o aspecto oral

A maior parte dos sons do japonês não traz muita dificuldade para os nativos no português. Pela minha experiência, os japoneses têm bem mais dificuldade para pronunciar corretamente a nossa língua do que nós, a deles. Mas atenção: isso não quer dizer que a pronúncia do japonês seja especialmente fácil. Como normalmente acontece com idiomas que são bem diferentes do nosso, ela tem sutilezas que podem enganar os mais desatentos.

Ao contrário do que normalmente ouvimos dizer, o R não é simplesmente pronunciado como um L. Na verdade, a pronúncia dessa letra é uma mistura do que tendemos a pensar quando vemos estas duas consoantes. Além disso, no japonês há vogais curtas e longas. E também consoantes simples e duplas. O J é pronunciado de forma diferente, dependendo se está no início ou no meio de uma palavra. Ou seja: há nuances que merecem a sua atenção, se você quer adquirir uma boa pronúncia no japonês.

#4 – Faça uma imersão na cultura nipônica

Considerando a riqueza da cultura japonesa e a atração que ela exerce no mundo todo, você certamente vai encontrar um aspecto com o qual se identifica. Sejam os mangas, os animés, o cinema, a culinária japonesa, etc… As possibilidades são tantas, e estão tão à nossa disposição que você não precisa nem pegar um avião para se sentir em Tóquio!

No entanto, se você se interessa pela cultura pop japonesa, cabe um lembrete. Os personagens dos mangas e dos animés shōnen (Dragon Ball, Naruto, One Piece…) costumam se expressar de maneira informal. Às vezes, até um pouco vulgar. Portanto, cuidado para não sair reproduzindo esta linguagem indiscriminadamente. Vale lembrar que, para os japoneses, são muitas as situações que exigem um certo nível de etiqueta. Do contrário, você corre o mesmo risco de soar como alguém que, ao aprender inglês, sai falando com um rapper de Los Angeles…

Na nossa página de Recursos Gratuitos para Aprender Japonês, você vai encontrar muitas opções para consumir a cultura japonesa. Incluindo canais do YouTube, podcasts e jornais, entre outros. Mas se você quer acompanhar as notícias em japonês enquanto ainda não alcançou um nível suficiente para ler a grande imprensa, eu indico o site NHK Web Easy. Como ele é voltado aos estrangeiros que aprendem o japonês, cada texto traz uma versão em áudio, e definições bem claras.

Para nós, brasileiros, outra possibilidade é procurar por centros de cultura japonesa. Em função da grande quantidade de imigrantes do Japão que se estabeleceram em nosso País, muitas cidades brasileiras contam com associações ou centros culturais voltados a difundir e manter as tradições japonesas.

#5 – Converse em japonês

Para realmente aprender um idioma estrangeiro, é essencial usá-lo de forma ativa desde o início da sua aprendizagem. E isso também vale para o japonês. Por isso, sugiro que você encontre um correspondente linguístico com quem conversar regularmente.

Você pode escolher entre fazer isso de forma gratuita, procurando um nativo no japonês que esteja interessado em aprender português, e combinar um intercâmbio linguístico no qual cada um dos idiomas ocupará 50% das sessões. Ou pode contratar um tutor, que irá conversar com você em japonês 100% do tempo. Para o primeiro caso, uma boa opção é o HelloTalk. Já para o segundo, um dos melhores serviços disponíveis online é o do italki.

Conclusão

Se você quer aprender japonês, esteja certo(a) de que esse idioma não é mais difícil do que nenhum outros. Basta levar em conta suas especificidades e escolher um bom método. Com um pouco de dedicação diária, você com certeza será capaz de falar japonês com um bom nível.

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Sobre o autor convidado

Este artigo foi escrito com a colaboração de Pierre Blanchon, um blogueiro poliglota apaixonado, entre outras, pela língua e pela cultura japonesa.