Uma característica muito interessante sobre os idiomas é a forma como eles soam. Normalmente, mesmo que não falemos um determinado idioma, temos uma opinião sobre a forma como ele soa e, muitas vezes, fazemos até suposições sobre a personalidade daqueles que dominam a língua em questão. Isso nos leva a questionar se a(s) língua(s) que falamos pode(m) afetar nossa personalidade… Aqui, vamos abordar essa questão sob um ponto de vista científico. Além disso, apresentamos também os resultados de uma pequena pesquisa feita com os membros da Equipe MosaLingua sobre a personalidade dos idiomas, em que cada um de nós teve que apontar características que relacionava a idiomas específicos.

personalidade idiomas_feat image

Atualizado em 19.06.2020

Os idiomas que você fala afetam sua personalidade?

Um amigo que vive em Luxemburgo, falante nativo tanto de francês quanto de alemão, uma vez me disse já ter ouvido de seus amigos que ele soava completamente diferente quando falava em francês: mais animado e alegre do que quando falava em alemão. Esse é apenas um exemplo mas, quando observo pessoas falando diferentes idiomas, noto muitas vezes que a língua não é a única coisa que muda. Será que o idioma afeta o estado de espírito ou até a forma de ser daquele que o fala? Alguns chegam ao ponto de dizer que quem fala mais de um idioma desenvolve múltiplas personalidades, o que pode parecer estranho, à primeira vista.

Mas a forma como os idiomas que você fala afetam sua personalidade e a maneira como você se comporta tem sido matéria para pesquisas científicas há mais de 50 anos. Em um estudo conduzido em 1968, a pesquisadora Susan Ervin-Tripp pediu a mulheres nipo-americanas que completassem frases tanto em japonês quanto em inglês, e descobriu que essas mulheres finalizavam as frases de formas diferentes em cada um desses idiomas. Por exemplo: 

Quando meus desejos se chocam com os da minha família… 

  • eu fico muito infeliz. (japonês)
  • eu faço o que tenho vontade. (inglês)

Bons amigos devem… 

  • ajudar-se mutuamente. (japonês)
  • ser muito sinceros. (inglês)

Isso mostra a variação de comportamento associada à língua, independente dessas diferenças resultarem dos diferentes contextos em que elas aprenderam cada idioma (ou seja, a mentalidade dominante em cada país) ou serem reflexo das diferenças inerentes aos próprios idiomas. Essa é uma questão que ainda permanece em aberto entre os próprios pesquisadores.

Passemos então à nossa própria pesquisa sobre a personalidade das línguas, feita com a Equipe MosaLingua. Pedi aos meus colegas que listassem características que eles associavam ao som de cada idioma. Para antecipar o resultado em um frase: como você verá, por um lado, algumas associações podem resultar de experiências pessoais; por outro, alguns traços associados a alguns idiomas parecem ser unanimidade entre o grupo. 

A pesquisa sobre a personalidade dos idiomas com a Equipe MosaLingua 

Cada vez que eu aprendo um idioma e começo a me relacionar mais profundamente com os seus diversos aspectos, começo a projetar nesse idioma alguns traços, quase como se ele tivesse uma personalidade. Para usar como exemplos as minhas impressões pessoais, vou começar com o inglês. Vejo esse como um idioma próprio para contar histórias, não apenas pelo seu vasto vocabulário, mas também pelo seu som agradável e homogêneo… então, este é “o” idioma para se contar ou ler histórias.

Eu já havia começado a aprender francês antes de estudar inglês, então essa língua ocupa um lugar especial no meu coração. Para mim, o francês é o idioma mais bonito de todos. Eu descreveria o francês antes de tudo como elegante, talvez também como artístico (l’art de vivre do povo francês se reflete também no idioma). Gosto particularmente das línguas de origem latina.

O espanhol, para mim, é o idioma da paixão. Talvez tenha a ver com o fato de que eu comecei a aprender esse idioma ouvindo músicas, e algumas delas eram baladas com muita pasión. Já o italiano, embora eu não fale, me parece a mais romântica das línguas. Já o russo, para mim, tem uma sonoridade muito melancólica. O alemão (minha língua nativa), entretanto, não soa muito agradável nessa comparação. Ela é descrita como estruturada magistral.

O inglês

Como eu estava interessada em saber que associações outras pessoas faziam a certos idiomas, nós realizamos uma pesquisa como a Equipe MosaLingua. Os resultados foram muito interessantes, e serão apresentados a seguir. Primeiro, algumas observações sobre a pesquisa. Não fiquei surpresa que o inglês tenha sido apontado como o idioma usado no mundo dos negócios.

Para os membros de equipe, essa língua é descrita por adjetivos bastante neutros, como “eficiente” (Mara), “efetiva” (Luca), “direta ao ponto” (Diana), “objetiva” (Lize) e “diplomática” (Cédric). Só me pergunto se o inglês é visto dessa forma porque muitos de nós o utilizamos em nossa vida profissional, ou se a língua inglesa realmente possui os atributos mencionados, levando-a a tornar-se o idioma internacional que se tornou. Esse resultado reproduz a velha discussão sobre o ovo e a galinha: o que veio primeiro?

Idiomas românticos 

Também não foi surpresa que a maior parte da equipe tenha atribuído traços similares aos idiomas românticos, como espanhol, italiano, português e francês. Eles são realmente muito musicais, como a Mara descreve sua própria língua mãe, o italiano, e como a Lize descreve o espanhol. rítmicas – um atributo que a Mara associa ao espanhol enquanto a Lize relaciona ao seu idioma nativo, o português. Indo mais longe, a Lize fala sobre a diferença entre o espanhol e o português com uma frase atribuída ao escritor Gabriel Garcia Márquez, que teria dito que “o português é o espanhol sem ossos”.

De forma geral, podemos dizer que todos os participantes da nossa pesquisa associaram os idiomas de origem latina às emoções e ao amor e os descreveram como românticos, apaixonados e físicos (atributo dado ao italiano pela Lize). Os países em que essas línguas são faladas estão entre os destinos mais procurados para férias no sul da Europa. Não é à toa que esses idiomas são vistos como: sorridentes (Mara, sobre o português), ensolarados (Mara, sobre o espanhol) e quentes (Patricia, sobre sua língua nativa, o espanhol). 

Rússo e japonês

Por último, avaliamos as duas línguas mais exóticas que apareceram em nossa pesquisa. Foi interessante ver o quanto o rússo é visto de formas diferentes.  Para o Cédric, é um idioma profundamente emocional e melancólico, enquanto para três de nós foi categorizado como forte, e até intimidante, pela Lize. Já quando vejo os resultados relacionados ao japonês, eles refletem claramente minha visão desse povo: organizado (Patricia), disciplinado (Luca), oficial (Cédric) e criativo (Maike).

Dê uma olhada na nuvem de palavras abaixo. Talvez esses resultados, mostrados de forma gráfica, possam ajudá-lo(a) a descobrir o próximo idioma que você gostaria de aprender:

O inglês: nuvem de palavras

 

1

A nuvem de palavras sobre o francês:

2

Como o espanhol é visto pela nossa equipe:

3

A nuvem de palavras que define a forma como vemos o italiano:

4

E… como vemos o português:

5

O idioma alemão, do ponto de vista dos membros da Equipe MosaLingua:

6

As características do idioma russo:

7

E, finalmente, as do japonês:

8

Como você descreveria essas línguas? Há outros idiomas que você associaria a características marcantes? Você já escutou atentamente alguém que fala dois idiomas para notar a diferença?